quinta-feira, 19 de abril de 2012

Saudades da Minha Terra

Uma breve história da música sertaneja

Por Matheus Bottura Raulli

A viola ponteando e as vozes fazem o dueto. Dessa forma surgiu o sertanejo. Ritmo de raiz, nascido no interior brasileiro.

De canto simples e triste, o sertanejo que retratava a vida do trabalhador rural, relacionamentos, crenças religiosas e cenários de natureza pura, porém demorou para receber a devida atenção.

“Sua música se caracteriza por suas letras românticas, por um canto triste que comove e lembra a senzala e a tapera, mas sua dança é alegre
                                                 - Cornélio Pires, folclorista autor do livro “Conversas ao pé do fogo”

Em 1910, Cornélio Pires iniciou uma mobilização entre os artistas sertanejos para por o sertanejo em destaque. Muito se passou e somente na década de 30 que o sertanejo obteve o devido destaque, chegando a representar 40% do mercado fonográfico nacional, devido principalmente a grande parte da população brasileira que vivia no campo, cerca de 35 milhões.

Segundo Romildo Sant’anna (autor do livro “A moda é viola”), o sertanejo foi fundamentado sobre três pilares. O primeiro pilar foram os portugueses, que introduziram a viola no Brasil. O segundo são os índios, que na batida dos pés e das mão introduziram a dança (mais tarde conhecida como Catira) e o terceiro fica por conta dos africanos, que trouxeram ritmo e musicalidade da África. Somando tudo isso o sertanejo ganhou um fundo nostálgico por conta dos imigrantes que sentiam falta de suas terras.

“Moda bem tocada é aquela que desperta em nós uma saudade que a gente nem sabe do que”
                                                                                                      - Renato Andrade, Violeiro de Abaeté
O sertanejo pode ser dividido em três parte. A primeira, conhecida como Música Caipira ou Sertanejo de Raiz vai de 1929 até 1944. Do pós guerra até a década de 60 temos a transição entre o Sertanejo de Raiz e o Romântico. Da década de 60 até meados dos anos 2000 temos o Sertanejo Romântico e, de 2000 para frente o Sertanejo Universitário.


O começo de tudo: o Sertanejo Raiz

Ritmo com fragmentos de cantos tradicionais do interior brasileiro, o sertanejo de raiz tinha letras de representavam o modo de vida do homem do campo (fazendo certa oposição da vida do homem de cidade).

O sertanejo de raiz também fazia cultos a natureza bucólica, exaltando a mesma, também fazendo referência ao romantismo e a paisagem interiorana.

Juntamente com as vozes, as violas faziam par e entoavam a tarde do homem do campo após um dia de trabalho.

Nessa época se destacavam no cenário musical Cornélio Pires com a música Sérgio Foreiro e Ariovaldo Pires que fez Sertão da Laranjinha e em parceria com João Pacífico realizaram a moda Cabocla Tereza.



A transição: Da raiz ao romântico

O período de transição trouxe diversas novidades para o sertanejo. Foram adicionados novos estilo, como o dueto com intervalo e o estilo Mariachi, novos gêneros, como a guarania, polca paraguaia, corrido e rancheira mexicana, alé da introdução do acordeom (sanfona) e harpa.

A temática passa a ser mais amorosa, mas não deixa de pender para um lado biográfico, mantendo as características do sertanejo de raiz.

Algumas duplas acabaram inovando e merecem destaque. A dupla Milionário e José Rico sistematizaram o uso de elementos de tradição Mariachi, como os floreios de violino e trompete para preencher os espaços entre as freses. Além disso introduziram os golpes de glotes, que produziam qualidade soluçante na voz.
Apesar de toda a mudança, a dupla Pena Branca e Xavantinho não deixaram se influenciar e mantiveram um estilo bem raiz.



Além deles Cascatinha e Inhana, Irmãs Galvão, Limeira e Zezinha (lançaram a música campeira), José fortuna (responsável pela adaptação da guarania no Brasil) merecem destaque. Junto a esse seleto grupo incluímos Tião Carreiro

A eterna Majestade: O efeito Tião Carreio

Podemos dizer que a musica sertaneja se divide entre antes e depois de Tião Carreiro.

Mineiro de Montes Claros, Tião Carreiro foi um autodidata na arte de tocar viola. Criador do “Pagode de Viola”, ele conseguiu englobar ao sertanejo, o samba, coco e calango de roda, resultando em um novo ritmo.

Para a dupla Tanatã e Luã, “Tião carreiro pode ser considerado a enciclopédia da música sertaneja, a origem de tudo no sertanejo nacional.”

“Tião Carreiro pode ser considerado a enciclopédia da música sertaneja”
                                                                                                            - Tanatã e Luã, dupla sertaneja

A segunda parte: O Sertanejo Romântico

A partir da década de 60 o sertanejo passa a ser considerado romântico. A introdução da guitarra e o ritmo jovem da dupla Léo Canhoto e Robertinho deram uma nova cara ao sertanejo.

Simultaneamente, junto com o sertanejo, o Brasil tinha um novo movimento conhecido como Jovem Guarda e, justamente desse movimento saiu um dos integrantes mais célebres da musica sertaneja.
O paulista erradicado no Mato Grosso, Sérgio Reis ganhou destaque no cenário musical pelo seu repertório tradicionalista de música sertaneja. Juntamente com Sérgio Reis, Renato Teixeira também obteve sucesso pelo mesmo repertório tradicionalista.

Anos mais tarde, na década de 80, houve uma explosão comercial do sertanejo mais massificado, somando o sucesso da música com regravações de sucessos internacionais e também da Jovem Guarda. Entre dos maiores sucessos estão Fio de Cabelo (Marciano e Derci Rossi) e Evidências (José Augusto e Paulo Sergio Valle), que  mais tarde seriam regravadas por Chitãozinho e Xororó e Pense em Mim (Douglas Camargo) e Entre Tapas e Beijos (Nilton Lamos e Antonio Bueno), que ficaram eternizadas na voz de Leandro e Leonardo.

Nesse cenário destacam-se as duplas Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, João Paulo e Daniel, Chico Rey e Paraná, João Mineiro e Marciano, além das cantoras Nalva Aguiar e também Roberta Miranda.


O boom do Sertanejo Universitário.

Atenta ao cenário musical a indústria fonografia lança em 2000 um novo ritmo que vem para romper com o Sertanejo de Raiz, o Sertanejo Universitário. (possui esse nome pois a maioria dos adeptos são adolescentes)

Mudando a forma do sertanejo convencional, o universitário mudou tudo, começando pelos instrumentos, a sanfona passou a ser eletrônica, tornando a música mais rápida e animada. As letras também passaram por uma reformulação também, abandonando as letras romântica e de culto a natureza, passando a falar basicamente de festas, noitadas, e a famosa dor de corno.

No começo do universitário merecem destaque as duplas Guilherme e Santiago, com Azul, Jorge e Mateus com Pode Chorar, César Menotti e Fabiano com Leilão, Victor e Léo com Fada, João Bosco e Vinícius com Chora, me Liga, Maria Cecília e Rodolfo com Você de volta.

Além das premissas de festas e noitadas, o sertanejo universitário ganha adeptos todos os dias, grande parte devido a música simples de serem guardadas, como a música Aí, Se Eu Te Pego, de Michel Teló e refrães de frases curtas, geralmente de apenas uma sílaba, como Lelele de João Neto e Frederico e Balada Boa, de Gusttavo Lima, com o refrão do Tchê Tchê Rerê.

A fase do sertanejo é tão boa que, das 10 músicas mais tocadas em 2012, 9 são de autorias de compositores sertanejos e, em 2011, os cantores Fernando Fakri, conhecido como Sorocaba da dupla Fernando e Sorocaba e Victor Chaves, da dupla Victor e Léo foram os compositores que mais arrecadaram, segundo ranking do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).



De volta para minha terra: O sertanejo em busca da raiz

Apesar de todo o sucesso que o sertanejo universitário vem tendo nos últimos anos, algumas duplas tentam fugir desse gênero e voltar ao sertanejo raiz.

A que faz maior sucesso entre o público sertanejo é a dupla João Carreiro e Capataz, com letras românticas e volta da viola eles se destacam dentre as demais.

Outras que tentam a todo custo resgatar as origens, porém não tem tanto sucesso são Mayck e Lyan e Batô e Fernando. “Isso se deve, grande parte por causa das “modinhas”. As pessoas abandonam seus gostos para seguirem essas modinhas”, segundo Gustavo Diccine, músico e estudante de jornalismo.




Música Sertaneja x Música Caipira

Música Sertaneja: Engloba os estilos românticos e universitário. A principal característica da música sertaneja é que o seu cenário é a vida na cidade. Casos românticos, festas, baladas e bebidas são os principais temas desse gênero musical.

Destacam-se: Sérgio Reis, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, João Paulo e Daniel, Cesar e Paulinho, Gino e Geno, Cézar Menotti e Fabiano, Guilherme e Santiago, Victor e Léo, Jorge e Mateus, Fernando e Sorocaba, Maria Cecília e Rodolfo, Gusttavo Lima, Michel Teló, João Neto e Frederico, Paula Fernandes, entre outros...

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Música Caipira: Engloba o estilo de Sertanejo Raiz. O cenário da música caipira é o campo, a vida do homem simples e sua interação com a natureza. Paisagens bucólicas, relacionamentos impossíveis e crenças religiosas da população eram temáticas comuns entre as músicas.

Destacam-se: Cornélio Pires, Cornélio Pires e Mariano, Ariovaldo Pires, Ariovaldo Pires e João Pacífico, Zico Dias e Ferreirinho, Mandi e Sorocabinha, Tião Carreiro e Pardinho, entre outros...


Entrevista com Tanatã e Luã

Matheus Bottura Raulli: Qual a importância de Tião Carreiro para o cenário da música sertaneja? 
Tanatã & Luã: Tião Carreiro pode ser considerado a enciclopédia da Música Sertaneja. A origem de tudo no cenário sertanejo nacional. 
 
MBR: Das duplas do cenário atual, quais tem características mais semelhantes com o sertanejo de raiz?
T&L: Milionário e José Rico  e Durval e Davi 
 
MBR: Antigamente tínhamos Saudades da Minha Terra, hoje temos Aí, se seu te pego. Por que o sertanejo mudou tanto?
T&L: Na verdade, não tem como comparar, pois no caso de saudade de minha terra, existe letra, melodia e uma história. Ai se eu te pego é um hit de modismo, passa logo.

MBR:Na música Chico Mulato (Sérgio Reis), o cantador morreu de tristeza após a perda de um grande amor. Em músicas como Humilde Residência (Michel Teló) a música fala no interesse de apenas uma noite de "amor" . O  sertanejo perdeu o romantismo em suas letras?
T&L: Como dissemos anteriormente, o sertanejo original nunca perdeu e nunca perderá o romantismo, as novas tendências de universitário, são modismo que não possuem sequência, as musicas se perdem a cada 03/04 meses. 

MBR: Será que no futuro voltaremos a ter músicas grandiosas com Saudades de Minha Terra?
T&L: Com certeza, já temos hoje, na voz do cantor Daniel, musicas sertanejas românticas, como Adoro Amar Você...
 
MBR: Qual a diferença da música caipira para a música sertaneja?
T&L: Musica Caipira é a chamada musica Raiz, que conta do homem do campo, musica sertaneja já conta história da cidade é tipo um chamamé, um vaneirão, são musicas dançantes.

MBR: O sertanejo pode ser dividido em três fases: Sertanejo Raiz (o começo), Sertanejo Romântico (Milionário e José Rico, Tião Carreiro e Pardinho, Chitãozinho e Xororó...) e Sertanejo Universitário (Luan Santana, Gusttavo Lima...). Dentre os três, qual a fase mais importante para a história da música sertaneja? Por que?
T&L: Todas são importantes e tem um momento especial na evolução da musica sertaneja, porém no nosso ponto de vista , a fase que mais marcou e emplacou e predomina até hoje é a do sertanejo romântico.
 
MBR: O que a música sertaneja representa para você?
T&L: Representa nosso projeto de vida, nossos sentimentos e nossos valores. 

MBR: Por que duplas que tem características de música raiz, como Mayck e Lyan não tem destaque no cenário musical?
T&L: Porque o Cenário nacional exige mais produção, exige mega shows, nas grandes festas, o artista tem que arrastar grandes públicos.

MBR:Pra você, qual a melhor dupla da música sertaneja?
T&L:Na nossa opinião, Milionário e José Rico.


Espero que vocês tenham gostado do meu trabalho para a aula de Laboratório de Jornalismo Impresso e, acima de tudo, espero que a professora tenha gostado ;)


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